Inflação da cesta básica consome mais de 50% do salário mínimo

O goiano precisa trabalhar mais de 100 horas para conseguir se alimentar adequadamente, possuir moradia e saúde adequadas, aponta Dieese
Por O Hoje
Data: 03/05/2024
Nos corredores dos supermercados, só estão vazias prateleiras com produtos em promoção

O dia do trabalhador foi marcado por supermercados lotados. Mães com crianças levando o carrinho de compras, filas longas em todos os caixas, prateleiras vazias precisando de reposição, porque alguns itens estavam em promoção, como o arroz e a carne. E quando o assunto é promoção, o trabalhador goiano aproveita para abastecer a despensa com itens que até um tempo atrás eram muito caros para levar para casa. Em contrapartida, mesmo com a queda de alguns preços, a média da cesta básica na capital goiana é de R$703,57, e o salário mínimo, R$1.412.

Segundo uma análise feita pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), para uma família composta por quatro pessoas conseguir ter acesso à alimentos como arroz, feijão, carne, farinha e leite, além de arcar com os custos de moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, ela precisa receber um salário equivalente a 6.832,20 reais.

O autônomo Jorge Henrique, de 34 anos, vai em direção ao caixa do supermercado com seu carrinho em que, entre algumas coisas, estão dois pacotes de arroz de 5kg. Ele comenta feliz que, agora que o preço de alguns alimentos baixou, ele pode comer bem, e relembra como fazia quando os preços estavam altos.

“Eu comprava um pacote de arroz, dois; não comprava o que eu costumo comprar, né? Em vez de quatro, cinco pacotes”. O arroz, de acordo com o DIEESE, foi um dos alimentos que mais aumentou de valor nos últimos 12 meses, chegando a 40,46%. Entre fevereiro e março, o valor diminuiu, possibilitando uma melhora no seu consumo.

Ano após ano é perceptível a perda do poder de compra da população brasileira. Em 2023, se comparado o percentual da inflação com os dos valores de alimentos típicos nas refeições diárias, alguns produtos tiveram aumento 17 vezes maior do que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O aumento também está presente no valor de frutas, hortaliças, cereais, óleo entre outros produtos.

Ivanilde Carneiro e Juliano Oliveira Filho, donos de um restaurante familiar no bairro Campinas, contam como fazem para manter aberto um estabelecimento que depende diretamente do valor dos alimentos: “Arroz e feijão não tem como fugir [do preço] deles, né? A gente procura sempre por promoções. A gente vai atrás. As verduras, folhagens, saladas, essas coisas, a gente compra aqui pertinho, porque pega novo, né? Quando é uma verdura ou produto mais caro, a gente compra lá no Ceasa (Centrais de Abastecimento de Goiás)”.

Para o casal de comerciantes, o salário mínimo é pouco: “Pra gente que trabalha em um pequeno estabelecimento, nos esforçamos pra manter só um funcionário. Pra quem paga o salário, já é caro, mas pra quem consome, é muito pouco”. Levando em conta que o salário mínimo é necessário para sustentar não só a alimentação, mas a compra de medicamentos, material escolar e previdência social, entre outros, é preciso pensar além, em quais alternativas o trabalhador goiano pode se manter.

Dicas para economizar

Adriana Pereira, economista, docente da Universidade Estadual de Goiás e doutora em Políticas Públicas fala sobre a variação de preços dos alimentos, que podem estar caros em um mês e alterar seu valor no próximo. Ela explica que, para o valor do produto, a época do ano, sua exportação para outros países e o valor do dólar são questões que atingem diretamente o valor final dele no supermercado.

A economista ainda deu algumas dicas que são úteis para quem procura equilibrar os gastos: No supermercado, sempre aproveitar para comprar os produtos da época; se é época de maçã, na hora das frutas priorizá-la. Ela também fala sobre substituir um produto de marca cara por similares mais em conta.

“Muitas vezes as pessoas fazem isso, mas acabam não consumindo o produto e jogando fora. É bom evitar o desperdício.” Outra dica é ter um grupo do whatsapp com a família e fazer a lista de compras do mês, e irem em conjunto ao Ceasa comprar, porque acaba saindo mais barato.

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