Malha cicloviária de Goiânia está estagnada desde 2018

Trechos para ciclistas em Goiânia estão em 100 km há mais de 6 anos; de lá pra cá só ocorreram mudanças pontuais com retirada das ciclorrotas e implantação de ciclofaixas e ciclovias
Por Jornal Daqui / O Popular
Data: 16/09/2024
Na ciclofaixa do Jardim América, veículos estacionados ao longo do trecho em diversos pontos impedem o uso pelos ciclistas (Diomício Gomes / O Popular)

Doze anos após a implantação da primeira ciclovia urbana dentro de um plano de ampliação do uso de bicicletas em Goiânia, com a inauguração do trecho entre a Praça Cívica e a Praça da Bíblia, a criação de vias para ciclistas na capital vive uma estagnação. Desde 2018, quando atingiu o patamar de 100 quilômetros de ciclorrotas, ciclofaixas ou ciclovias, a quantidade de trajetos pensados para quem usa a bicicleta para se deslocar na cidade continua a mesma. Neste período, a principal mudança foi a retirada das ciclorrotas, que são trechos apenas sinalizados, sendo totalmente compartilhados com veículos motorizados, para a implantação de ciclofaixas, um trecho da via destinado às bicicletas, ou ciclovias, estrutura toda segregada.

Isso ocorre mesmo sem a realização de um plano cicloviário, como é determinado pelo Plano Diretor de Goiânia e o Plano de Mobilidade da cidade. Segundo a arquiteta e urbanista e mestre em transportes, Poliana Leite, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do Mova-Se Fórum de Mobilidade Urbana, "sem planejamento voltado ao ciclista não há como atender ao público específico". "E quando falo em atendimento me refiro não só à infraestrutura viária, mas também ao ambiente que deve existir para a segurança do ciclista que inclui sinalização, controle de velocidade, educação e conscientização de todos os usuários da via e equipamentos de apoio. Apenas um projeto que integre várias ações poderá entregar uma malha cicloviária adequada. Essa não é a realidade da nossa cidade", considera. Para ela, "ações isoladas não funcionam, principalmente se mantivermos o modelo de planejamento e operação que temos hoje, que é modulado a partir do carro".

Engenheiro de Transportes e mestre em Projeto e Cidades, Matheus Duarte Oliveira entende que a expansão da infraestrutura cicloviária em Goiânia começou com foco no lazer, especialmente em torno dos principais parques urbanos da capital. "No entanto, essa expansão foi concentrada principalmente na região sul da cidade, sem garantir uma conectividade eficaz com outras áreas. Isso revela uma falta de visão integrada, uma vez que a bicicleta, como meio de transporte, precisa de infraestrutura que proporcione segurança, conforto e conectividade entre diferentes regiões e outros modais de transporte", complementa. Para ele, historicamente a capital "enfrentou dificuldades para avançar na implantação dessa infraestrutura, sugerindo que a mobilidade cicloviária não era uma prioridade para as gestões anteriores".

O engenheiro afirma, no entanto, que é possível notar que, "apesar de o tema não parecer central no planejamento urbano recente, há esforços pontuais e comprometimento de alguns setores com o deslocamento ativo", como no caso da instalação de ciclofaixas na Avenida T-6, que conectou as ciclovias das avenidas dos Alpes, Assis Chateaubriand e Universitária. "Esse tipo de iniciativa merece reconhecimento, pois demonstra um avanço importante na promoção de uma malha cicloviária mais integrada. Ainda assim, é importante que Goiânia adote um plano cicloviário abrangente que considere a bicicleta como um meio de transporte, promovendo sua integração com o transporte público e garantindo uma cobertura mais ampla em todas as regiões da cidade."

Plano cicloviário

Para Oliveira, somente com o plano cicloviário será possível consolidar uma rede "que atenda as necessidades reais dos ciclistas e incentive o uso da bicicleta como uma alternativa viável e segura para os deslocamentos diários". Ele ressalta que Goiânia "tem apresentado demanda considerável para o uso da bicicleta como modo de transporte, especialmente nas áreas periféricas, onde muitos ciclistas utilizam a bicicleta como meio de transporte diário". Desde 2021, de acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), a gestão municipal implantou 20,46 km de ciclovias ou ciclofaixas, com a citada da Avenida T-6, a do Setor Jardim América (Rua C-149) e a Marginal Barreiro, seja por via direta ou parcerias. Por outro lado, trechos que tinham sido demarcados como ciclorrotas em 2015 foram apagados a partir da requalificação asfáltica das vias e pela adoção da política de manter apenas trechos segregados como cicláveis.

Apesar disso, os trechos cicloviários têm sido usados de maneira irregular, sobretudo por usuários de veículos automotores e até vendedores ambulantes, como ocorre no caso da ciclofaixa da Rua 44, no Setor Norte Ferroviário. Na ciclofaixa do Setor Jardim América, veículos ficam estacionados ao longo do trecho em diversos pontos todos os dias da semana, impedindo o uso pelos ciclistas, que acabam recorrendo às calçadas ou dividindo o espaço com os carros, caminhonetes, motos e ônibus nos trechos. De acordo com a SMM, em todo o ano passado, a pasta registrou 4.393 infrações, uma média de 12 por dia, sendo a maior parte (4.146) estacionamento sobre a via ciclável. Os números são menores do que o verificado em 2022, quando a média de infrações ficou em 16,89 a cada dia. Neste ano, até o final de agosto, a SMM aponta um total de 2.889 multas aplicadas pela ocupação indevida de ciclovias ou ciclofaixas por veículos motorizados, o que gera média diária de 11,84.

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