Vitória de Trump exige da direita resultados, não apenas ideologias

Direita de Trump não está preocupada com questões ideológicas, mas com resultados práticos na vida; assim, a direita brasileira terá que readequar seu discurso
Por O Hoje
Data: 07/11/2024
Nesta quarta-feira (6), o mundo assistiu à vitória quase triunfal de Donald Trump na disputa pela presidência dos Estados Unidos

Nesta quarta-feira (6), o mundo assistiu à vitória quase triunfal de Donald Trump na disputa pela presidência dos Estados Unidos, após uma eleição marcada pela polarização. Com o novo mandato, Trump se tornará o 47º presidente americano, a partir de 20 de janeiro de 2025, dia de sua posse, depois de ter exercido o cargo entre 2017 e 2021. A vitória do republicano projeta uma mudança significativa no cenário político global, com repercussões que devem influenciar a direita no Brasil, reforçando o movimento conservador, por aqui, e reanimando o bolsonarismo em um contexto já polarizado com a esquerda do presidente Lula (PT).

No entanto, o que as eleições dos EUA confirmam é que, em países democráticos, a alternância de poder é natural - e saudável, pois é construída por todos. Dessa forma, se faz importante voltarmos nossos olhares para 2020, quando Trump foi derrotado pelo atual presidente, o democrata Joe Biden.

Na época, Biden recebeu 306 votos no Colégio Eleitoral e Trump, 232. Neste ano, o republicano se elegeu, com 292 votos dos delegados, contra 224 de sua adversária Kamala Harris. A diferença, no entanto, está em como cada candidato recebeu o resultado. Embora Trump já havia dito nessa campanha que não contestaria os resultados, em 2020 não aceitou o resultado e ainda incitou, indiretamente, a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

No Brasil, a extrema direita representada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quase que copiou a mesma movimentação - invadiu, coincidentemente em 8 de janeiro de 2022 (um ano e dois dias após a invasão ao Capitólio), a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, depredando os maiores símbolos políticos da nação. Em contraponto, a candidata democrata Kamala Harris, derrotada por Trump, parabenizou rapidamente o republicano, com uma postura política séria e de respeito à democracia.

Mas, a volta de Trump será sentida no Brasil? A resposta é sim. Vai reverberar por aqui. Contudo, o cenário é outro. A direita representada por Trump não parece estar preocupada com questões ideológicas, mas sim com resultados práticos na vida, com dinheiro no bolso e poder de compra. Para isso, a reportagem do jornal O Hoje conversou com cientistas políticos para se ter uma visão mais ampla sobre como a eleição americana pode reviver o bolsonarismo e realinhar a direita brasileira para as eleições presidenciais de 2026.

A força do discurso de Trump

Para o cientista político Lehninger Mota, a vitória de Trump mostra como o discurso voltado à economia nacionalista e ao fortalecimento da indústria americana se sobressaiu, em contraste à narrativa ideológica adotada no Brasil. Trump trabalhou na linha ‘América para os americanos’.  "Embora as pessoas vejam Trump como uma pessoa polêmica, os americanos estão preocupados com qualidade de vida, dinheiro no bolso e não ideologias. Mesmo que haja um movimento de direita crescendo pelo mundo, eles estão preocupados com questões econômicas para além do discurso", afirmou Mota indicando que se Bolsonaro chegar em 2026 com o mesmo discurso de "se o PT ganhar vai fechar igrejas” ou ‘PT quer ensinar ideologia de gênero nas escolas”, o ex-presidente corre risco de perder sua liderança. O motivo? O mesmo dos americanos. Brasileiros querem um discurso mais propositivo sobre questões reais do País, como economia e pautas que impactam diretamente a vida das pessoas.

Na análise de Mota, o sucesso de Trump não se deve exclusivamente à economia, mas à capacidade que teve de conectar seus discursos aos anseios diretos da população. Nos EUA, o índice de inflação está em desaceleração, o desemprego se mantém baixo e o mercado financeiro exibe indicadores positivos. Fatores esses que deveriam, teoricamente, fortalecer a candidatura de Kamala Harris, vice de Biden. Porém, nesta pauta, Trump se saiu melhor - soube transformar esses dados em uma promessa de continuidade de crescimento, com a narrativa de “fazer a América grande novamente” e que os próximos quatro anos serão a “era de ouro” dos EUA.

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