Maioria da bancada goiana é contra o fim da jornada 6x1
A maior parte dos deputados federais de Goiás manifesta posição contrária à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pretende encerrar a jornada de seis dias de trabalho por um de folga no Brasil. A matéria ainda precisa de pelo menos 30 assinaturas para atingir o mínimo de 171 necessárias para tramitar e define nova escala com quatro dias trabalhados por semana, com regime de 36 horas a cada sete dias.
A maioria da bancada goiana aponta que a ideia, apesar de mobilizar engajamento entre trabalhadores, seria inviável economicamente. De acordo com levantamento do POPULAR, ao menos seis deputados antecipam voto contra a PEC, caso seja apreciada, e apenas dois são favoráveis. Das 134 assinaturas registradas, há apenas o apoio dos petistas Adriana Accorsi e Rubens Otoni, entre os goianos.
Além da manifestação contra o texto, há ainda três deputados que se mantêm indecisos, com avaliação de que a sugestão é interessante na teoria, mas que é preciso realizar estudos sobre a aplicação prática, principalmente a partir dos custos para empresários e empregadores, além de aguardarem posicionamentos das bancadas partidárias.
Com perfil majoritariamente direitista, integrantes da bancada usam discurso polarizado ideologicamente para condenar a proposta, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL/SP). "Eu acho que isso que a esquerda trouxe, especialmente o partido desse deputado (sic) ou dessa deputada, não é um bom projeto para o Brasil, ainda mais em um momento desse em que nós estamos precisando de produção, trabalhar e buscar faturamento", diz Glaustin da Fokus (Podemos).
"Isso gera um desconforto, porque se você perguntar, é claro que é bom ficar à toa. Não é prazeroso acordar cedo todo dia. Trabalhar é espetacular? Claro que não, mas nós temos que fazer e não concordo com essa PEC nunca", adiciona.
Marussa Boldrin (MDB) avalia que a matéria, como está, "não passa" na Câmara federal. "O projeto força uma situação impraticável para todos. Ele vai forçar o aumento dos custos para todas as empresas, algumas correndo o risco de fechar, logo aumentando o desemprego. Aquelas que não fecharem vão repassar o aumento de custos para o consumidor final e o custo de tudo aumenta", opina.
A deputada ainda aponta "desemprego e redução da capacidade de compra". "Para falarmos em redução da carga de trabalho precisamos incluir no debate qual será a redução dos tributos. E isso a esquerda não quer debater. Temos que ter responsabilidade, pensando no futuro e não em projetos populistas", diz Marussa.
Os parlamentares confirmam a pressão popular pela assinatura na PEC e por eventual voto favorável ao fim da escala 6x1. "Eu tenho sido pressionado desde o fim de semana e vi uma discussão grande no instagram, com muita gente me cobrando", contou Zacharias Calil (UB), em entrevista à repórter Eliara Salla, da CBN Goiânia. "E aí deputado? Como o senhor fica? Cadê vossa excelência nessa PEC? São muitos mesmo mandando mensagem cobrando. Acabei de receber mais um aqui", disse o deputado em meio ao som de notificação.
"Isso causa muita polêmica e é uma questão de redução que deve ser tratada em convenções e acordos coletivos de trabalho e não em uma PEC. É uma situação bastante complicada, porque não discutimos isso na bancada, mas eu participo de grupos da oposição e realmente existe uma situação de preocupação sobre o empresariado. Isso também causa muita discussão e nós também temos que ter responsabilidade com o país", avalia Zacharias.
Além dos três, Ismael Alexandrino (PSD), Gustavo Gayer (PL) e Daniel Agrobom (PL) também confirmam posição contrária à PEC e questionam o objetivo prático do texto. "É totalmente inviável. Pode agradar aos ouvidos, mas não é possível executar", diz Agrobom.
Além dos contrários, José Nelto (UB), Célio Silveira (MDB) e Lêda Borges (PSDB) afirmam que ainda não têm posicionamento definido. "Tenho que ouvir a minha bancada. É um debate mais demorado e eu não vou, com o meu voto, quebrar a economia brasileira. Isso é muito sério, mas espero meu partido definir", aponta José Nelto à CBN.
"Uai, eu acho que a proposta é a melhor possível. Eu só quero saber quem vai pagar a conta. Isso vai chegar é para o próprio povo, porque os empresários vão ter que dobrar o número de funcionários e não há condição para isso. Ou então reduzir salários. Nós precisamos ver os estudos para saber quem vai pagar a conta, para ter uma posição", aponta Célio Silveira.
Favorável
Já Otoni defende que a mudança "segue a tendência mundial" e que o processo é de "investir na qualidade de vida dos trabalhadores para ter maior produtividade". Questionado sobre a viabilidade econômica da medida, o petista avalia que se trata da "velha discussão: é gasto ou investimento?".
"Não tenho dúvida que é investimento. Tanto é verdade que mesmo não tendo obrigação legal, centenas de empresas no Brasil já usam um modelo mais flexível de escala de trabalho", afirma. Adriana acredita que a alteração "com certeza é viável" e que é preciso "dialogar e achar o caminho".
"Quando a PEC for apresentada, vamos indicar o debate verdadeiro. Dialogar com o setor produtivo e trabalhista, para achar um caminho bom para todos. Onde foi feito o teste deu bom resultado, com os trabalhos rendendo mais", diz.
Em entrevista à CBN Goiânia, a autora da PEC disse ter certeza de que conseguirá as assinaturas para iniciar o debate. "Haverá resistência, mas nós dialogaremos. O texto está pronto, mas, com certeza ao atingirmos as 171 assinaturas, vamos conseguir trabalhá-lo melhor para que atenda os interesses da sociedade como um todo".