Como melhorar a qualidade do descanso e proteger a saúde

De acordo com a Fiocruz, cerca de 72% da população brasileira enfrenta distúrbios do sono
Por O Hoje
Data: 26/11/2024
uso excessivo de telas, por exemplo, é um dos principais culpados

A busca por uma noite tranquila de sono é um desejo universal, mas para milhões de brasileiros, esse anseio não se concretiza. De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz, cerca de 72% da população brasileira enfrenta distúrbios do sono, um número alarmante que revela a profundidade de um problema que afeta a saúde física e mental de uma grande parcela da população. O sono, fundamental para a manutenção de funções vitais do corpo, vai muito além de um simples momento de descanso. É durante o sono que o corpo realiza processos de recuperação essenciais, como a regulação hormonal, fortalecimento do sistema imunológico e a eliminação de toxinas. No entanto, problemas relacionados ao sono têm o poder de prejudicar esses mecanismos, resultando em consequências sérias para a saúde e o bem-estar.

O especialista psiquiatra Ricardo Assmé, em entrevista sobre os impactos dos distúrbios do sono, destaca que a privação de sono, mesmo que por uma única noite, pode gerar efeitos imediatos e significativos na atenção, concentração e memória. “Qualquer tarefa cognitiva se torna mais difícil. Ao mesmo tempo, o humor pode ser afetado, resultando em irritabilidade”, explica Assmé.

Mas os efeitos não param por aí. A longo prazo, a falta de um sono reparador pode levar a consequências ainda mais graves, como o aumento da suscetibilidade a doenças crônicas. Problemas como a insônia e a apneia do sono, por exemplo, são fatores de risco para condições como hipertensão, diabetes e obesidade. De acordo com o psiquiatra, a qualidade do sono influencia diretamente na imunidade, tornando o organismo mais vulnerável a infecções e outras doenças. Além disso, ele explica que distúrbios do sono também podem afetar o equilíbrio hormonal, particularmente os hormônios responsáveis pelo controle do apetite, o que pode resultar em um maior risco de obesidade. “Pessoas que não dormem bem têm maior probabilidade de ganhar peso, pois os hormônios da fome ficam desregulados, levando a um aumento na ingestão alimentar, principalmente de alimentos ricos em calorias”, aponta o especialista.

Fatores que afetam a qualidade do sono

Muitos fatores podem contribuir para a má qualidade do sono. O uso excessivo de telas, por exemplo, é um dos principais culpados. Estudo após estudo tem mostrado que o uso de dispositivos como smartphones, computadores e televisores antes de dormir tem um efeito negativo no sono, principalmente devido à luz azul emitida por essas telas, que inibe a produção de melatonina, o hormônio responsável por regular o ciclo de sono.

A neurocirurgiã Mônica Rios destaca outro aspecto importante: a posição ao dormir. Dormir de lado, por exemplo, pode ajudar a ativar o sistema linfático, promovendo a remoção de resíduos cerebrais, o que é benéfico para a prevenção de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Ela alerta, no entanto, que dormir de costas pode aumentar o risco de apneia do sono, uma condição que afeta a respiração durante o descanso. “O ronco excessivo, a apneia e a dificuldade para respirar durante o sono são alguns dos principais distúrbios que encontramos em pacientes”, explica. A insônia, é um dos distúrbios mais comuns, frequentemente está associada a fatores emocionais, como o estresse e a ansiedade. A insônia pode ser aguda ou crônica e, em muitos casos, está relacionada a um componente neurológico. O tratamento da insônia pode envolver uma abordagem terapêutica conhecida como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que se foca em identificar e modificar pensamentos e comportamentos prejudiciais ao sono. Para casos mais graves, o uso de medicamentos pode ser necessário.

Por outro lado, a apneia do sono é uma condição respiratória em que ocorre uma obstrução temporária das vias aéreas, o que pode levar a interrupções frequentes no sono e dificuldades respiratórias. Mônica Rios explica que essa obstrução é muitas vezes causada por anomalias anatômicas na garganta ou no palato. “A apneia do sono é uma condição grave e, se não tratada adequadamente, pode resultar em problemas cardiovasculares, como hipertensão e doenças do coração”, alerta a especialista. O diagnóstico da apneia do sono é feito por meio de um exame chamado polissonografia, que avalia as atividades cerebrais, respiratórias e musculares durante o sono. O tratamento pode incluir o uso de um CPAP (um aparelho que mantém as vias respiratórias abertas durante o sono), além de fisioterapia respiratória e, em alguns casos, intervenção cirúrgica.

A qualidade do sono está diretamente ligada aos hábitos diários. Um estilo de vida saudável e a adoção de boas práticas podem fazer toda a diferença na hora de garantir uma noite de descanso reparador. Além de evitar o uso de telas antes de dormir, é essencial ter uma rotina consistente de sono, indo para a cama e acordando sempre no mesmo horário. O ambiente também desempenha um papel crucial na qualidade do sono. Garantir que o quarto seja tranquilo, escuro e silencioso pode melhorar significativamente a capacidade de adormecer e permanecer dormindo. A alimentação também tem um impacto direto no sono. Comer refeições pesadas ou ricas em carboidratos perto da hora de dormir pode dificultar o processo de adormecimento. “Evitar a ingestão de cafeína à noite é outro ponto importante. A cafeína é um estimulante que pode manter o corpo em um estado de alerta, dificultando o relaxamento necessário para um sono profundo e restaurador”, destaca Ricardo Assmé.

Além disso, a prática regular de atividades físicas pode contribuir para melhorar a qualidade do sono. No entanto, é fundamental evitar exercícios intensos nas horas próximas ao horário de dormir, pois isso pode gerar estado de agitação que prejudica o adormecer.

O tratamento para distúrbios do sono varia de acordo com a condição específica do paciente. Em alguns casos, mudanças no estilo de vida e a adoção de hábitos saudáveis são suficientes para promover uma melhoria significativa na qualidade do sono. Já em outros casos, especialmente em condições como a apneia do sono e a insônia crônica, pode ser necessário o uso de medicamentos e terapias especializadas.

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