Goiás já tem 77% de seu território afetado por seca intensa

Neste ano, Estado teve o mês de junho com maior severidade durante período de estiagem. Região Leste já conta com mais de 100 dias sem chuva
Por Jornal Daqui
Data: 26/07/2024
Queimada na região metropolitana de Goiânia: seca mais severa este ano (Wesley Costa / O Popular)

Em junho deste ano, Goiás teve a maior extensão territorial acometida por seca moderada ou grave entre os registrados deste mês a partir de 2020. Ao todo 77,2% do território do Estado tem sofrido com o período de estiagem intenso, o que equivale a 262,5 mil quilômetros quadrados (km²). Por outro lado, as chuvas só devem começar a cair novamente em outubro. Conforme o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), o Leste goiano, por exemplo, já completa mais de cem dias sem precipitação.

Os dados da seca registrados no mês de junho de 2020 a 2024 constam no Monitor de Secas do Brasil, da Agência Nacional das Águas (ANA). O painel segrega em cinco classificações a intensidade da estiagem: fraca, moderada, grave, extrema e excepcional (veja quadro ao lado). Considerando apenas o território com seca acima de moderada, 2020 foi o segundo ano com o período mais intenso: 76,9%. Já os anos seguintes demonstraram uma queda no indicador: 76,1% em 2021, 63,8% em 2022, e 45,7% em 2023.

Por outro lado, ao contrário do registrado nos anos anteriores, que tiveram maior porcentual de seca grave ante a moderada, este ano tem registrado uma estiagem considerada menos acentuada, sendo que a classificação grave corresponde a 0,3% do mês de junho, e sem registro de seca extrema ou excepcional. Ambos os estágios de intensidade foram vivenciados pela última vez em 2022. Já nos primeiros dois meses de 2024, o período foi mais crítico no Estado, com a estiagem grave alcançando 8,8% em janeiro e 7% em fevereiro. Desde então, ficou estagnada no mesmo porcentual observado no mês de junho.

Conforme o comparativo feito pelo Monitor de Secas entre maio e junho deste ano, o Nordeste do Estado teve um avanço de seca fraca a moderada devido à "persistência de chuvas abaixo da média". "Os impactos permanecem de curto e longo prazo (CL) no Oeste e Leste, e de curto prazo (C) no restante do Estado", diz a última avaliação do painel. Os impactos de curto prazo dizem respeito à atuação de uma seca por quatro meses ou menos. Já de longo prazo, por mais de 12 meses.

Geógrafo e diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental (Idesa), Ary Santos diz que as previsões sobre o período de seca para os próximos anos "não são as melhores". "Creio que devemos nos preocupar com a repetição em intervalos cada vez mais curtos desses fenômenos climáticos e não com eles em si. Períodos de secas ou grandes enchentes são naturalmente sazonais, mas a reincidência dos mesmos tem sido intensificada. As mudanças climáticas são um fato, não uma mera opinião", aponta.

Conforme o Cimehgo, já são 103 dias sem chuva na região Leste do Estado, 97 dias no Sul e Sudeste, 91 nas regiões Central e Oeste e 90 no Norte goiano. Conforme o último boletim informativo sobre o tempo, nesta quinta-feira (25), o prognóstico para o final de semana é de temperaturas máximas em elevação, sendo as "mínimas baixas pela manhã" e a umidade relativa do ar em declínio durante a tarde. O nível é de atenção para a mínima do índice, com umidade entre 21% e 30%.

Água

Ao mesmo tempo em que Goiás registra seca na grande maioria de seu território, o Cimehgo também verifica que o nível dos mananciais que cortam o Estado tem ficado abaixo da média histórica. No Rio Araguaia, a exemplo, as estações hidrológicas de Aragarças, Aruanã e Nova Crixás mostram uma cota em junho e julho menor do que em 2023. Na última, abaixo até da mínima histórica já observada. A cota inferior também é vista no Rio Claro, na estação de Montes Claros de Goiás; no Rio Paranã, em Formosa; no Rio Meia Ponte, com medição em Itumbiara; e no Rio Verde ou Verdão, em Maurilândia.

"Nós falamos que este período de estiagem iria ser mais crítico. Já temos regiões com mais de cem dias sem chuva, e isso vem de uma consequência lá de trás: com 2023 e (início de) 2024 tendo chuvas abaixo da média,por causa do fenômeno climático El Niño. Há lugares onde choveu demais, outros com tempestade, mas também essa chuva parou de forma prematura em meados de abril e gera o que agora observamos. E os dois anos também foram chuvas muito irregulares, o que gerou esse déficit. Então temos rios com níveis mais baixos e vazão mais baixa também", comenta o gerente do Cimehgo, André Amorim.

No ponto de captação da Saneago no Bairro São Domingos, em Goiânia, a vazão do Rio Meia Ponte já se encontra em nível de alerta --- classificação dada quando o escoamento da água fica igual ou abaixo de 9 mil litros por segundo (L/s). No comparativo da média mensal de 2023 e 2024, a vazão neste ano só foi maior em fevereiro. Em maio e junho, além de julho, até agora, a média se manteve bem abaixo. Por exemplo, em junho, foram 7,9 mil L/s neste ano e 12,5 mil no ano anterior. Vale lembrar que o Meia Ponte é responsável por parte do abastecimento de Goiânia e dos municípios da região metropolitana.

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